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29 de mar. de 2010

Entrevista: Pitanguy e a plástica no Brasil

Pitanguy critica a banalização da plástica

Cirurgião mais famoso do Brasil diz que o que mais faz é convencer pacientes a não operar


Por Valmir Moratelli, iG Rio - Originalmente publicado no site iG

Ele lida, diariamente, com a busca alheia da juventude eterna. Um dos cirurgiões plásticos mais renomados no mundo, Ivo Pitanguy diz que nunca sofreu a ação de um bisturi. Aos 83 anos o cirurgião mantém a produtividade em seu consultório e não pensa em aposentadoria. “Se eu tenho um ofício que gosto de exercer, não faz sentido me afastarem disso. Gosto de transmitir minha verdade a outros”, diz.

Foto: Isac Luz Ampliar

Aos 83 anos, Pitanguy nem pensa em se aposentar

Após uma conferência sobre envelhecimento durante o IX Simpósio Internacional de Medicina Antienvelhecimento, no Rio de Janeiro, Pintaguy conversou com a reportagem do iG. Confira a entrevista.

iG: Como o senhor lida com o próprio envelhecimento?
Pitanguy: Com curiosidade permanente, atendendo a uma série de reivindicações que a vida exige. A minha maneira de acumular conhecimento e o prazer enorme de distribuí-los também são formas de encarar esta realidade. Preciso estar em paz com a vida.

iG: Já pensou em se aposentar?
Pitanguy: O pior para o ser humano é afastá-lo das suas atividades. Gosto de transmitir minha verdade a outros. Não existe aposentadoria para isso. Na verdade, quando você detém um conhecimento, há prazer em transmiti-lo. Desde que tenha quem queira receber, claro.

iG: Quando o senhor se sentiu velho, pela primeira vez?
Pitanguy: Agora, que você acaba de fazer esta pergunta (risos). Me senti velho quando fiz 30 anos. Achei que 30 anos, naquela época, correspondia a ser um senhor. Fui a um alfaiate e ele sugeriu outro corte para minha roupa, porque já não tinha aquela idade de antes.

iG: O senhor já fez plástica?
Pitanguy: Nunca fiz. Uma das melhores plásticas é você se sentir bem com o que tem. É achar que você é melhor do que realmente é.

iG: De que forma a vaidade se insere no seu cotidiano?
Pitanguy: Quando controlada, a vaidade deve fazer parte do dia a dia de todos nós.

iG: O senhor pinta cabelo...
Pitanguy: Às vezes sim, outras não. Me sinto muito à vontade com isso. Não é uma obrigação. Tem muito cabelo branco aqui nas laterais, como você pode perceber... Mas nunca tive cabelo totalmente branco. Nem na barba. Hoje, é claro, não tenho tudo pretinho (risos).

iG: E como cuida da mente? Faz meditação?
Pitanguy: Eu sou terceiro ‘dan’ de karatê (ou o terceiro grau dentro da faixa preta). Só dizer isso já explica como é minha meditação. Pratiquei por 12 anos. Tenho em casa um templo de meditação, onde permaneço com os aprendizados de concentração. Sinto o benefício do bem-estar com essas pequenas paradas ao longo do dia.

iG: Há um exagero na quantidade de cirurgias plásticas sendo realizadas no Brasil?
Pitanguy: Hoje há um exagero de tudo. De telefonia, de informação, de pequenas comunicações... A tendência é uma banalização da imagem. E banalizaram o que não podiam ter banalizado, porque cirurgia plástica é um ramo da cirurgia geral. O sujeito, ao ser operado, tem riscos iguais a qualquer outro ato cirúrgico. Em toda cirurgia sofre o fator do imponderável.

iG: O senhor já afirmou que há um crescente aumento dos homens à procura de cirurgias plásticas. A que se deve isso?
Pitanguy: Poderia citar vários motivos. Dou crédito às mulheres. Elas foram ocupando o mercado de trabalho de tal forma, que o homem, diante de sua própria masculinidade, foi buscar força na sua maior fragilidade, que é cuidar de si mesmo. O homem está buscando a doçura com sua própria imagem. É mais dono da sua imagem do que antes. A sociedade não o culpa mais por isso.

iG: O senhor às vezes convence pessoas a não fazer cirurgia plástica?
Pitanguy: É o que eu mais faço, diariamente. Faz parte da frequência diária. As pessoas procuram o médico no sentido fáustico (Fausto é personagem de um livro do filósofo alemão Goethe), que na literatura era visto como o cara que fez um pacto com o diabo e tinha uma fórmula mágica para a juventude. Quem pensa assim é doente. O mais insatisfeito é o cara que espera mais do que o médico pode oferecer. O ideal é ter interação física e mental daquilo que o paciente espera com aquilo que o médico pode oferecer.

iG: Qual o seu conceito de envelhecimento?
Pitanguy: É um termo amplo. Tem duas visões. A primeira é a questão objetiva, o que você vê. A segunda é o que você sente. Tem gente que não se sente velho, mas aparentemente é, e o contrário também ocorre. O ato de envelhecer é o acúmulo de experiências e fatos que vão dando à vida, apesar do passar dos anos, um sentido ao próprio tempo.

iG: O que é mais dramático: ser fisicamente velho com cabeça de jovem ou o contrário?
Pitanguy: O envelhecimento mental é pior do que o físico. Necessita um tratamento mais complexo.

iG: Como a facilidade à informação ajuda no processo do envelhecimento?
Pitanguy: É muito bom ter reflexão sobre a informação. Conhecimento pressupõe maturidade. Maturidade é uma série de camadas que vão se acumulando. Se envelhecer é dar encanto e importância a cada momento da vida, isso faz com que o passar dos anos não seja tão ruim assim.

iG: Que projeções o senhor faz para a cirurgia plástica daqui a 50 anos?
Pitanguy: Todas as previsões feitas até hoje foram erradas. Poucas projeções prospectivas dão certo. Sinto que a medicina em geral está crescendo. Teremos muito mais facilidade, por exemplo, na utilização de órgãos para transplante. Hoje se perdem órgãos com facilidade. A tecnologia já existe, o que falta é a compreensão fisiológica. O mapeamento genético é um caminho extraordinário.

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